quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ela não sabia o que era amor. Ou melhor, sabia o amor que tinha, mas para os outros aquele amor que tinha era não saber o que é amor. Cartas, presentes, chamegos, dengos e flores. Isso não. Isso sim do jeito dela. Só quando fosse dela. Na hora dela.

Talvez por isso achavam não saber o que é amor. Por não seguir os passos do jeito deles, e sim do jeito dela. Por não seguir, aliás, um só passo. Seguir vários. Vários para poder se perder, cada vez mais em passos tortos. Para dançar em vários ritmos, já que em um só ela não conseguia, parecia desajustada, dançava mal quando era em par. Tango, então, nem pensar.

Na verdade, o que queria mesmo é que todos falassem nela, pensassem nela - enquanto ela pudesse se dar ao luxo de pensar em todos e em outros. Não queria se limitar, mas queria que se limitassem. Egoísta, isso sim. Muito egoísta. Tão egoísta que não aceitava perceber que outros caíam no jogo dela e sabiam estar caindo. Se caíssem e soubessem, com eles não falaria mais. Queria que só ela percebesse o jogo. Quando os outros soubessem, seria sinal de que o jogo já não era mais dela. Se afastaria.

Tanto se afastou que perdeu a graça no afastamento. Perdeu a graça no amor do jeito que ela tinha, o jeito que só ela percebia ter. Precisava, para si, o amor do jeito do outro. Talvez , não por acaso, era o amor que todos aqueles que a culpava por não ter amor, tinham: era o melhor amor possível.

sábado, 20 de junho de 2009

Desilusão (ou realismo).

Todo início é belo e saudoso.

Pena.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Zenaide Yasmin Xanda Wanderléia

Vive: reclamando, calada, gritando

Unta: fôrma

Tira: sobrancelha, cutícula
Troca: receita, absorvente, marido
Trabalha: casa, escritório

Sabe: coser, acariciar, vida, fofocas, tempo, roupa, coisas

Reclama: direitos, poesias

Quer: amor, amar, viver, gozar, ganhar, falar, falar, falar

Prende: sutiã, cabelo
Prepara: leite da criança, menina para a vida
Pinta: unha

Ouve: rádio, novela, música, pássaros, vento, discussões, declarações, serenatas, declamações, gritos, gemidos, pedidos

Namora: espelho, ele, si mesma

Manda: recado, serviço, beijo, abraço, aperto de mão

Lava: alma, louça, criança, mão, pé, roupa

Joga: água, flores, dados, dardos

Imita: estrela, mãe, avó, amiga, celebridade, inteligências

H

Gosta: tudo menos nada menos tudo (é complicada)

Faz: penteado, amizade, amor, macarrão, limpeza, histórias

Esquenta: comida, relação

Depila: virilha, axila, perna, buço

Cuida: mãe, pai, avô, avó, filho, filha, sobrinho, sobrinha, homem, vizinho, velho, novo

Beija: boca, testa, mão, carta, ar

Aprende: beijar, cuidar, depilar, esquentar, fazer, gostar, imitar, jogar, lavar, mandar, namorar, ouvir, pintar, preparar, prender, querer, reclamar, saber, trabalhar, trocar, tirar, untar, viver

de cima para baixo
do fim para o começo
do avesso e não avesso

complicados e perfeitinhos

Pessoas são seres engraçados. Dos mais engraçados eu diria, dadas as suas complicações. Nascem e morrem só. Mas não conseguem viver como nasceram e muito menos assim morrer.

Precisam de companhia - mesmo quando dizem que não. Aliás, é quando dizem não precisar que a precisam mais. Quando se fazem de perfeitos. Quando acreditam sobreviverem sozinhos de seus próprios achismos e pensamentos. Quando passam sem olhar nos olhos, ignoram as outras falas.

Quando não aceitam o outro, não escutam. Bolha? Não. Podem nem viver na bolha, mas vivem sem ver outras vidas. Vivem ser ver que à sua volta há outras verdades. Não percebem.

Mais sós são aqueles que não aceitam suas faltas, que não acreditam nas suas carências. São o que são: sós, e aparentemente fortes. Fortes são os mais fracos.

Complexos e contraditórios.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Fato

Percebi que tinha te esquecido quando te vi com outra e não consegui achar um defeitinho sequer nela.
Até a unha do dedinho do pé era bonita, inteligente e me agradava.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Da gaveta, um resto

SEM SAL, SEM GOSTO

Te procurei entre beijos insossos
Sem sal, sem gosto
De porra nenhuma.

Tentei preencher a lacuna
Cheia de um vazio pesado
Com mais um pouco de nada
Os olhos vendados

Entre braços e abraços,
Apertos, carinhos
Erros e berros

Entre muitas pernas,
Procurei em vão
No sexo sem tesão.

De casa em casa
De boca a boca
De alma em alma
Sem um pingo de calma
Mendigando, louca

À procura do perdido
Perdida, vagando
Entre a mulher e o homem
Ao longo d’um túnel enorme
No fundo do infindável poço
Dentro do meu próprio bolso

Variando, devaneando

E entre os beijos insossos
Dentre múltiplos rostos
Sem sal nem gosto

Achei um pra gostar
Pra bem querer
Tocar, pensar, ter
E depois que o novo velho ficar
Outro novo vem de novo
Pra mim, sempre
Nessa busca sem fim
Entre os beijos insossos
Com sal a gosto

A meu gosto.


Do fundo da gaveta, um resto (2008). E o velho se renova. Tudo a mesma bosta.

espanador

Meu filho?
Tem rinite, alergia a pó.

Tô só passando aqui um pouquinho pra deixar o menino respirar.
Ele precisa.
Ainda é humano.