sábado, 17 de outubro de 2009

Todas as mulheres que fui pra você

Eu quis ficar brava com você quando aconteceu.
Quis mesmo.
Mas quando vi, já não era mais só sua mulher. Era sua mãe.
Não, eu não era mais madura ou experiente que você. Longe disso.
Mas é que você me surgiu tão criança, de repente. Tão dependente de mim.
Acho que amor infantiliza...
- ou o pecado.
Quis te bater, cheia da cólera dos traídos, e arreguei, cheia da benção incondicional das mães, ao te ver pedindo por colo. Com os bracinhos estendidos pra mim, os olhos marejados refletindo a tua necessidade de proteção, de carinho, de perdão.
De amor.
Vi que se eu te deixasse ali, sozinho, você não sobreviveria.
Sequei tuas lágrimas, então.
E nunca derramei as que você me provocou.
Te abracei, te ninei, te pus ao meu lado.
Te cuidei.
E to te vendo crescer, até hoje, na barra da minha saia.
Só espero saber te deixar partir, quando tiver de te entregar ao mundo, menino.
Quando criares asas e fugires pra bem longe de mim.

domingo, 4 de outubro de 2009

Doce so-li-dão.

Ah, solidão.
Talvez meu medo fosse de te encontrar.
Acordar sozinha, levantar sem dar bom dia, sem dar beijo.
Passar o dia inteiro sem ter em quem pensar.
Passar sem.
Sem...
Mas não tinha jeito. Eu sabia que ia esbarrar com você em algum momento.
Cansei de fugir, de me esconder.
Puxa uma cadeira, senta aí.
Vamos conversar.
Eu sei que você não conversa...
Que não afaga e não consola.
Mas também sei que não vai embora.
Tão cedo.
Tem de ficar.
Então, vamos lá.
A gente anda precisando mesmo uma da outra.
Você vai ser minha fortaleza, um dia, sabia? Minha conquista.
Por isso, e só por isso, eu vou te agüentar.
No amor que eu não vou mais mentir.
Na metade do lençol que eu não vou mais puxar.
No cigarro que eu to tentando largar.
Nos sonhos próprios.
Até me fartar.
E além.

domingo, 23 de agosto de 2009

Mudei tanto o título que acabei sem

Eu tenho um sério problema. E ele tem apenas 7 letras. Sete. Um número fácil de lembrar e comum de se dizer (peça a alguém para dizer um número que a probabilidade dela dizer "7" é maior do que 77%).

Meu problema começa logo cedo, quando eu acordo. Tomo banho com a nova marca de shampoo - assim que o pote velho termina, não consigo continuar com o mesmo tipo. Depois, coloco uma roupa. Tiro. Coloco outra. Pego uma bolsa. Troco. Pego outra. Saio de casa, faço caminhos diferentes. Chego no trabalho, sento em outra cadeira.

Não sei se é mania. Se é tique (ou, recentemente, toque - toc). Não sei. Só sei que não aguento: mudo. E aí entra meu problema: na mudança.

Antes eram os móveis do quarto - a cama ia para perto da janela num mês, perto do armário no outro. Depois, foram as pessoas (o que é muito, muito perigoso). Agora, é tudo. Tudo mudou, tudo muda. Eu tento, tento me apegar para sempre a um só modo de pensar. A um só modo de agir. A só fazer o bem, só pensar o bem. A só cantar a mesma música - até decorar. Não consigo.

Tento criar uma rotina de sentar na mesma cadeira, escolher o mesmo lugar na mesa, a mesma fileira na sala de aula - mas não dá. Repare.

É por isso que é difícil de me segurar. Que é tão impossível me pegar de jeito. (É impossível?). Porque enquanto eu gosto disso, logo, logo, gostarei daquilo. Não é por maldade, eu juro. É por vontade. Simples assim.

Mudei o layout. Briguem, me xinguem, mas por favor, não queiram me fazer parar de mudar.

(isso de não mudar é uma das coisas que, até agora, percebi não mudar em mim)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Passionalidades

Queria ter nascido passional.

As pessoas passionais não têm vergonha de serem ciumentas. Tudo bem que elas podem não saber como lidar com isso e fazerem tsunamis em copos d’água.
Mas e daí?
É que elas vivem disso, entende? Elas comem vida. Até a casca.
Elas não têm vergonha de expressar nada. E se envolvem de um jeito que faz com que o ciúme seja só uma das entranhas dela. Natural. Simples assim.
E outra. Todo mundo que se envolve com uma pessoa passional demais sabe que ela é passional demais - é visível. É vivo - E aprende a lidar com isso.
Ou a desligar.
Não é que nem comigo. Eu virei uma ciumenta passional, sem nunca ter sido uma passional ciumenta.
Se eu pudesse escolher...

Porque ciúme é vício. Paixão é talento.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Verde

Estavam cortando a grama perto do portão. Barulho de roçadeiras e cheiro fresco, bem tropical, bem típico e forte, de grama cortada.
Cheiro de dias quentes. Cheiro de vida na chácara, dos meus dez anos. Cheiro da minha mãe, que trabalhava feito homem e roçava a grama de vários hectares.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Amélias por aí....

Música do novo álbum da Pitty... não é a cara desse blog? Descontruindo Amélia.

domingo, 9 de agosto de 2009

Cinema

O dia era quase frio e as roupas combinavam. Casacos e sapatos pretos, como sempre. Reencontro. Conversa. Adultos. Do balcão faziam sua casa, as garrafas se esvaziando. Verdes.
Por certo tempo, um senhor, conhecido da cidade, a eles se juntou para conversar. Falavam de música, Michael Jackson e Frank Sinatra.
Conversavam sobre tudo.
Sem mágoas. Sem saudades também.
Apenas um estranho sentimento de familiaridade.
Ele continuava o mesmo, mas fumava.
Eles já não eram os mesmos, mas cantavam ainda as mesmas músicas.
Riam um pouco, acertavam o tom.
Parecia remoto, mas ao lado do outro o encaixe ainda era perfeito.
Ele confessou seus jogos, sua falta de escrúpulos.
Não tinha porque negar, ela já o sabia.
Respondeu quando perguntado sobre a nova garota.
Não perguntou nada porém. Tinha dúvidas, mas sempre procurava outros meios de descobrir.
Conversaram sobre tudo. Sem meiguices.
Palavras de amor não eram necessárias.
Tudo, natural.
Suas bocas, velhas conhecidas.

Escarpin, sandália, rasteirinha

Fiquei com vontade de escrever sobre sapatos.

Daí vim pra cá.
E a perdi.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Cansou

F-a-l-a-r
A-m-a-r
D-a-r
A-r
c
a
b
o
u
o
f
ô
l
e
g
o
.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ela não sabia o que era amor. Ou melhor, sabia o amor que tinha, mas para os outros aquele amor que tinha era não saber o que é amor. Cartas, presentes, chamegos, dengos e flores. Isso não. Isso sim do jeito dela. Só quando fosse dela. Na hora dela.

Talvez por isso achavam não saber o que é amor. Por não seguir os passos do jeito deles, e sim do jeito dela. Por não seguir, aliás, um só passo. Seguir vários. Vários para poder se perder, cada vez mais em passos tortos. Para dançar em vários ritmos, já que em um só ela não conseguia, parecia desajustada, dançava mal quando era em par. Tango, então, nem pensar.

Na verdade, o que queria mesmo é que todos falassem nela, pensassem nela - enquanto ela pudesse se dar ao luxo de pensar em todos e em outros. Não queria se limitar, mas queria que se limitassem. Egoísta, isso sim. Muito egoísta. Tão egoísta que não aceitava perceber que outros caíam no jogo dela e sabiam estar caindo. Se caíssem e soubessem, com eles não falaria mais. Queria que só ela percebesse o jogo. Quando os outros soubessem, seria sinal de que o jogo já não era mais dela. Se afastaria.

Tanto se afastou que perdeu a graça no afastamento. Perdeu a graça no amor do jeito que ela tinha, o jeito que só ela percebia ter. Precisava, para si, o amor do jeito do outro. Talvez , não por acaso, era o amor que todos aqueles que a culpava por não ter amor, tinham: era o melhor amor possível.

sábado, 20 de junho de 2009

Desilusão (ou realismo).

Todo início é belo e saudoso.

Pena.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Zenaide Yasmin Xanda Wanderléia

Vive: reclamando, calada, gritando

Unta: fôrma

Tira: sobrancelha, cutícula
Troca: receita, absorvente, marido
Trabalha: casa, escritório

Sabe: coser, acariciar, vida, fofocas, tempo, roupa, coisas

Reclama: direitos, poesias

Quer: amor, amar, viver, gozar, ganhar, falar, falar, falar

Prende: sutiã, cabelo
Prepara: leite da criança, menina para a vida
Pinta: unha

Ouve: rádio, novela, música, pássaros, vento, discussões, declarações, serenatas, declamações, gritos, gemidos, pedidos

Namora: espelho, ele, si mesma

Manda: recado, serviço, beijo, abraço, aperto de mão

Lava: alma, louça, criança, mão, pé, roupa

Joga: água, flores, dados, dardos

Imita: estrela, mãe, avó, amiga, celebridade, inteligências

H

Gosta: tudo menos nada menos tudo (é complicada)

Faz: penteado, amizade, amor, macarrão, limpeza, histórias

Esquenta: comida, relação

Depila: virilha, axila, perna, buço

Cuida: mãe, pai, avô, avó, filho, filha, sobrinho, sobrinha, homem, vizinho, velho, novo

Beija: boca, testa, mão, carta, ar

Aprende: beijar, cuidar, depilar, esquentar, fazer, gostar, imitar, jogar, lavar, mandar, namorar, ouvir, pintar, preparar, prender, querer, reclamar, saber, trabalhar, trocar, tirar, untar, viver

de cima para baixo
do fim para o começo
do avesso e não avesso

complicados e perfeitinhos

Pessoas são seres engraçados. Dos mais engraçados eu diria, dadas as suas complicações. Nascem e morrem só. Mas não conseguem viver como nasceram e muito menos assim morrer.

Precisam de companhia - mesmo quando dizem que não. Aliás, é quando dizem não precisar que a precisam mais. Quando se fazem de perfeitos. Quando acreditam sobreviverem sozinhos de seus próprios achismos e pensamentos. Quando passam sem olhar nos olhos, ignoram as outras falas.

Quando não aceitam o outro, não escutam. Bolha? Não. Podem nem viver na bolha, mas vivem sem ver outras vidas. Vivem ser ver que à sua volta há outras verdades. Não percebem.

Mais sós são aqueles que não aceitam suas faltas, que não acreditam nas suas carências. São o que são: sós, e aparentemente fortes. Fortes são os mais fracos.

Complexos e contraditórios.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Fato

Percebi que tinha te esquecido quando te vi com outra e não consegui achar um defeitinho sequer nela.
Até a unha do dedinho do pé era bonita, inteligente e me agradava.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Da gaveta, um resto

SEM SAL, SEM GOSTO

Te procurei entre beijos insossos
Sem sal, sem gosto
De porra nenhuma.

Tentei preencher a lacuna
Cheia de um vazio pesado
Com mais um pouco de nada
Os olhos vendados

Entre braços e abraços,
Apertos, carinhos
Erros e berros

Entre muitas pernas,
Procurei em vão
No sexo sem tesão.

De casa em casa
De boca a boca
De alma em alma
Sem um pingo de calma
Mendigando, louca

À procura do perdido
Perdida, vagando
Entre a mulher e o homem
Ao longo d’um túnel enorme
No fundo do infindável poço
Dentro do meu próprio bolso

Variando, devaneando

E entre os beijos insossos
Dentre múltiplos rostos
Sem sal nem gosto

Achei um pra gostar
Pra bem querer
Tocar, pensar, ter
E depois que o novo velho ficar
Outro novo vem de novo
Pra mim, sempre
Nessa busca sem fim
Entre os beijos insossos
Com sal a gosto

A meu gosto.


Do fundo da gaveta, um resto (2008). E o velho se renova. Tudo a mesma bosta.

espanador

Meu filho?
Tem rinite, alergia a pó.

Tô só passando aqui um pouquinho pra deixar o menino respirar.
Ele precisa.
Ainda é humano.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Licença poética

"Tenho três grandes frustrações na vida e um dom:
Não sou boa cozinheira.
Não sou boa motorista.
Não sou boa de cama.
E escrevo naturalmente sobre isso".

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um, Dois

“Idéias soltas, experiências roubadas e alguns exageros. Perfeitos para serem transportados para todos os lugares e lidos em uma paulada só.”
instruções de Dois Palitos, de Samir Mesquita

As pessoas não querem saber de grandes devaneios. Tudo tem que ser rápido, rápido e se eu usar mais uma vez a palavra "rápido" parecerá enrolação - afinal, um rápido só bastaria para mostrar o que é verdadeiramente rápido. Pelo menos é isso que dizem do tempo de internet, blogs, e pessoas que com apenas um "oi" se bastam. E se beijam.

Há tempos vi no caixa de uma livraria uma caixa - de fósforos. Ao invés de acendedores de cigarros para quem não tem isqueiro, ela continha nada mais, nada menos, do que microcontos.
Isso mesmo. Um exemplo?

"Queria ser escritor.
Começou mentindo para os pais."

Dispostos um sobre o outro, vários exemplos destes se encontravam dentro da caixinha. Eram frases que sozinhas acendiam uma história inteira. Sempre com uma pitada de humor.

A obra, de Samir Mesquita (e eu tinha que linká-lo a sua página no Twitter, o que também é conhecido como "microblog"), chama-se "Dois Palitos" e é assim direta: são 50 historinhas de, no máximo, 50 letras.

Quanto do seu dia você leva para ler o livro? Segundo ele, 3 minutos. Um pouquinho mais do que você levou para ler este post - que fala apenas de uma coisa.

Tem mais tempo para ler aqui?
Então vá para e veja alguns outros minicontos, riscando o fósforo, ouvindo o barulho e - quase - sentindo o cheiro de queimado.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Estréia

Quando me convidaram pra entrar no apê, hesitei. Li o convite. Será que devo? Olhei para os lados. Reli. Num impulso, pedi as chaves, e, em seguida, elas me foram dadas. Quando as tinha nas mãos, não sabia o que fazer: entrei em pânico. E eis que estou aqui, meus caros, abrindo as portas com cuidado, entrando de mansinho, tremendo. Voilà, minha grande estréia.

A questão é que nunca tive um blog na vida, nunca escrevi para os outros, mesmo que nas horas de maior desespero a escrita tenha sido meu único e insubstituível remédio. Já escrevi, e muito, porém poucos são os que tiveram a honra (ou desgosto) de ler minhas produções. Meus textos e poesias têm esse "acesso restrito" porque eu sempre desenrolei assuntos pra lá de pessoais, e, convenhamos, eu não sou mulher de ficar expondo por aí as minhas fraquezas. Grandes decepções, amores não correspondidos, não amores extra correspondidos, família, a vida, a vida e a vida; dores: no peito, de cotovelo, de corno (ah, as dores de corno!), enfim...

É verdade também que sempre senti um pouquinho de vergonha. Tá, um pouquinho não, muita vergonha. Nunca tinha conhecido um protótipo de jornalista com vergonha de publicar?Muito prazer. Tenho medo de errar, falar merda, medo de julgamentos ("ah, não se pode ter medo de errar!todo mundo erra!e você sempre vai ser julgada, mesmo pelo silêncio!"blá blá, blá.), e isso tudo sempre me travou. Além disso, tenho uma certa dificuldade em encontrar palavras (muito prazer, mais uma vez). E também tenho alguns princípios aos quais sou fiel, mas isso eu comento mais tarde.

Outro ponto: não me é natural simplesmente discorrer sobre assuntos aleatórios, assim, sem um objetivo. As pessoas que ublicam devem ter suas razões, para serem ouvidas, ou simplesmente pra botar tudo pra fora, mas nenhuma delas me cabe. Se são banalidades, conversamos numa mesa de bar. Se são muito sérios e profundos, também conversamos numa mesa de bar. Agora, se são muito íntimos, escrevemos num papel e guardamos no fundo de uma gaveta. Pra mim é isso. Mas voltemos aos princípios. Veja bem, as premissas são simples, portanto de fácil compreensão (abençoada seja a lógica!)

Não falo sobre assuntos que não domino;
Não domino nenhum assunto;
Logo, não falo porríssima nenhuma.

Me irrita ver gente falando do que não sabe. Um discurso sem fundamento, opiniões sem relevância. Eu particularmente demoro para processar os dados do mundo, estou indo com calma, um passo de cada vez. Mas também não entrei aqui pra ficar calada. Trarei a mesa de bar pra dentro do apê, e até mesmo alguns rascunhos da gaveta. Aqui vou falar de banalidades, casos, vou expressar o meu eu artístico - isto é, se houver algum dentro de mim, falar um pouco de merda e um pouco de mim. Aliás, o "eu" é um bom começo. [a ser continuado]

(Respira. Respira. Publicar postagem)

Sinto a porta fechando às minhas costas.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Re: Sobre o meu sumiço!

De: Mim
Enviada: domingo, 12 de abril de 2009 20:07:10
Para: O Desaparecido
Assunto: Re: Sobre o meu sumiço!

Cara, que foda.

Posso dizer pra você que já levei várias broncas com relação a isso de não avisar onde estava, com quem estava, nem o que estava fazendo. Quantas noites, me divertindo, deixei de fazer uma simples ligação que acalmasse meus pais. Quantas vezes não devi satisfações. Quantas vezes a música alta ou o sussuro no ouvido não foram desculpas pro "ai, eu ligo mais tarde..."

Acontece. Claro, nunca chegou as suas proporções, grazie dio!, mas acho que se juntarmos todas as pequenas horas que meus pais já ficaram loucos atrás de mim vai dar na overdose de tempo que sua mãe ficou querendo te achar. A gente tem essa neura de querer a independência. Na verdade, é a típica vontade de querer mudar, fazer a vida valer, fazer alguma coisa para mostrar que vivemos. Nós somos todos jovens, inteligentes com saúde. Precisa de mais alguma coisa?! A gente tem tudo o que quer. Mas falta.

Sentimos falta daquilo que ninguém sabe. Sentimos que o que temos não é suficiente. Estamos sempre querendo mais - seja esse "mais" mais do mesmo ou mais do outro, do novo, do diferente. Esse desejo louco por mudança vem desde sempre, e posso arriscar que é o que move o homem. Enquanto tudo parece perfeitinho - você tem sua casa, estuda numa faculdade foda, tem um puta futuro pela frente - um monstro dentro de nós nos angustia, nos inquieta, faz parecer que "peraí, mano, alguma coisa EU tenho que fazer pra viver de verdade! EU tenho que aproveitar essa minha existência no mundo"

Ok, parece exagero, e muitos vão pensar que é a falta de preocupação - já diria o ditado popular: mente vazia, oficina do diabo., mas no fundo no fundo, acredito que esses sumiços que nós damos servem simplesmente para sair desse sistema, dessa rotina, dessa obviedade e certeza que nos regula.

Meu, todos nós somos maiores de idade. Quantas pessoas não mudaram o mundo com 18 anos? Quantos não fizeram filho, criaram família, se sustentaram sozinhos com 18 anos? Tudo bem, isso tá fora da nossa realidade, mas sempre esteve presente nas outras - sejam elas de outras décadas, de outras classes... - quantas loucuras, quantos ideais, quantas revoluções não surgiram da juventude?!

O que eu quero dizer é que a gente tá naquele limbo: não somos adultos, não nos sustentamos e dependemos totalmente dos nossos pais. Devemos explicações a eles - afinal, "só" são as pessoas que mais nos amam no mundo... Um pai daria a vida pelo filho (e isso só quando vc for pai vai saber de verdade!). Temos esse privilégio de ter alguém que se daria por nós. Ao mesmo tempo, queremos mostrar para o mundo que não! Não dependo mais de ninguém. Posso seguir meu rumo. Aliás, já está mais do que na hora de segui-lo sozinho. Não aguento mais ter que avisar a todo instante onde estou, com quem estou, o que estou fazendo. Quero a minha vida.

Aí que a gente some. Quando sentimos o gostinho de minha vida. Quando estamos nos sentindo tão bem no meio de gente igual a gente, gente que também está nesse barco, nesse limbo, que simplesmente esquecemos - e não queremos lembrar - do mundo real (aquele que para nós é o da vida que nossos pais suaram para nos dar e o qual vivemos desde sempre).

Entendo perfeitamente o que aconteceu com vo ê(apesar de você até poder achar que toda essa minha teoria daí de cima é pura viagem). Não acho que deva desculpas, mesmo porque foi um aprendizado para todos. Parece que você pegou todos os meus erros do ano passado e juntou em uma noite. Eu me vi em você. O que nos resta fazer é, cara, respirar fundo, agradecer MUITO a família que tem e a amizade que construímos (ou melhor, as amizades que você construiu).

[Falando em off, dá até vontade de sumir só pra ver se as reações seriam as mesmas. Só para comprovar as amizades que tenho.]

Com esse episódio você ganhou mais do que vários esporros (juro que quando eu ouvi sua voz e vi que você estava bem eu fiquei muito aliviada mas também muito nervosa, muito puta - aquele tempo todo a gente mega preocupados e você na balada, nem pra me chamar! hahaahah... Na hora eu vi que aquele nervosismo só era resposta para a minha preocupação que só era sinal do amor que sinto por você - e do amor que todos sentem) você ganhou a certeza de que tem amigos. Você ganhou a resposta do que é amor.

Mano, não me faça mais passar por isso! Pelamordedeus, vc não sabe o que é estar indo pra um EXAME DE SANGUE e ouvir pela boca do seu pai que o "ELE DESAPARECEU!". Vc não sabe o que é imaginar mil tragédias, mil coisas horríveis, mil coisas que me dá até vergonha de ter pensado. Pela primeira vez eu senti raiva da minha imaginação fértil. Você não tem noção do nó que aquelas duas palavras deram no meu estômago, no meu coração, em todos os meus orgãos.

Sério, a gente se preocupa muito com você. Você é de ouro, meu. E quando eu digo isso é porque é mesmo. Então oh, mais do que pedir desculpas, basta apenas fazer uma ligação (momento Teleton)!

Dê notícias.
Sempre.
(maaano, somos profissionais da comunicação, ui!)

beijos

[A situação: saiu às 14h de sexta com um grupo de amigos. Não deu mais notícias. Às 3h, sua mãe liga desesperada sem saber onde está. Logo em seguida, o sono de muitos termina: temos que o achar. 11h30 da manhã encontro ele por telefone: "Nossa, estou bem! Eu vi que um monte de gente me ligou... É, eu saí ontem.... Não tinha condições para voltar pra casa, acabei ficando na casa de um amigo". Normal.]

sábado, 11 de abril de 2009

Ternura

Tem umas coisas na casa da minha mãe que me enchem de ternura. Aquele negocinho que segura os guardanapos enrolados, não me lembro o nome. Sequer o soube alguma vez, eu acho. Fico pensando nela os escolhendo na loja. Minha mãe nunca foi de demorar pra escolher nada. É esse? É esse e pronto. Fico pensando como nasci dela, de vez em quando. (Tenho em mim todas as indecisões do mundo).

A imagem que me vem à cabeça é o típico quarto bem branquinho de hospital. Minha mãe está lá, deitada nele, sem dar um pio, serena, apesar de eu estar me esperneando toda lá dentro, querendo sair. Outra coisa que me faz questionar como foi que eu nasci dela é essa força inabalável pra qualquer tipo de dor. Mas isso aí eu já começo a achar que a gente vai adquirindo com o tempo.

Quantas vezes acordo e desejo profundamente ficar na cama o dia inteiro do tanto que dói. Ou sou tentada a cair no pranto, no meio de todo mundo, por causa de alguma coisa que me disseram, que me contaram, que eu vi... Mas não faço, nunca. Nem uma coisa, nem outra. Se fosse a menininha de anos atrás, já teria desistido de brincar e chamado a minha mãe há muito tempo.

Mas, hoje, nem quando eu quero, eu consigo fraquejar. É claro que não cheguei à inabalável força das mães do mundo. E que já errei muito e feio tentando chegar. Inclusive onde estou.
Confundi força com frieza.
Chamei-a de indiferença.
Machuquei muita gente.
Fui jovem. Aliás, abusei. Abusei da minha juventude. Essa beleza toda, inerente a qualquer juventude, tem que ter algo de estúpido, algo de efeito colateral. Aquilo a que chamam imaturidade. E tem que ter alguém afobado o suficiente pra abusar dela.

Mas cresci um pouco com o tempo. As confusões diminuíram. A fraqueza também.
E eu só espero é que as indecisões também diminuam. Mas é que eu não gosto muito de pensar no futuro. Prefiro me encher de ternura toda vez em que vejo o negocinho na terceira gaveta da cozinha e só. Afinal, não preciso ser um poço de fortaleza e decisões acertadas se sou um poço de ternura.

Não há nada mais bonito do que a capacidade de se emocionar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Embaixo do capacho, encontramos a seguinte nota:

"Cansei-me da quantidade de cômodos que tinha na velha casa da minha avó. Era muito quarto para nada. Ela, conhecida Amélia, sempre fora a rainha do lar - mas mesmo assim tinha que varrer aquela imensidão para depois não ter mais onde jogar o pó. Era cobrada para limpar direito o vidro, acertar a mão no tempeiro, dar de mamar ao bebê, arrumar todas as camas. Depois, fazer as unhas, trazer o chinelo do marido, fazer meias de tricô para as crianças, ler revistas sobre "como domesticar de seu homem" e assistir aos programas da tarde na televisão. Sem contar que tinha que saber de cor e salteado as receitas e o último capítulo da novela para poder comentar com as vizinhas. Grande Amélia.

Decidi mudar de vida. Ok, morar em casa de Vó é bom. Ainda mais quando se é uma Amélia - aprende-se muito do universo feminino, mas resolvi mudar-me para cá - um apartamento aqui no centro.

E também, eu que sou Amélia em homenagem à vó Amélia, sinceramente estava cansada de ouvir as pessoas cantando que "Amélia não tinha a menor vaidade e ela é que era mulher de verdade". Ah, faça-me o favor, eu tenho vaidade sim, e ai de quem dizer que não sou de verdade. Sou mais de verdade ainda - superlativa, explosiva de carne, osso e sem mimimi.

De mala e cuia vim virar independente. Ou melhor, independente sempre fui. Mas agora quero mostrar para o mundo todo que verdadeiramente sou. Boto a boca no trombone e o que ficava só dentro de casa há de se tornar público.
Com vocês, aberto a todos, o meu apê - com cheiro de café no ar, livros a todo canto e muita muita coisa para ser discutida.

Sejam Bem-Vindos!"

Entramos mesmo. E fomos muito bem-recebidas.