segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um, Dois

“Idéias soltas, experiências roubadas e alguns exageros. Perfeitos para serem transportados para todos os lugares e lidos em uma paulada só.”
instruções de Dois Palitos, de Samir Mesquita

As pessoas não querem saber de grandes devaneios. Tudo tem que ser rápido, rápido e se eu usar mais uma vez a palavra "rápido" parecerá enrolação - afinal, um rápido só bastaria para mostrar o que é verdadeiramente rápido. Pelo menos é isso que dizem do tempo de internet, blogs, e pessoas que com apenas um "oi" se bastam. E se beijam.

Há tempos vi no caixa de uma livraria uma caixa - de fósforos. Ao invés de acendedores de cigarros para quem não tem isqueiro, ela continha nada mais, nada menos, do que microcontos.
Isso mesmo. Um exemplo?

"Queria ser escritor.
Começou mentindo para os pais."

Dispostos um sobre o outro, vários exemplos destes se encontravam dentro da caixinha. Eram frases que sozinhas acendiam uma história inteira. Sempre com uma pitada de humor.

A obra, de Samir Mesquita (e eu tinha que linká-lo a sua página no Twitter, o que também é conhecido como "microblog"), chama-se "Dois Palitos" e é assim direta: são 50 historinhas de, no máximo, 50 letras.

Quanto do seu dia você leva para ler o livro? Segundo ele, 3 minutos. Um pouquinho mais do que você levou para ler este post - que fala apenas de uma coisa.

Tem mais tempo para ler aqui?
Então vá para e veja alguns outros minicontos, riscando o fósforo, ouvindo o barulho e - quase - sentindo o cheiro de queimado.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Estréia

Quando me convidaram pra entrar no apê, hesitei. Li o convite. Será que devo? Olhei para os lados. Reli. Num impulso, pedi as chaves, e, em seguida, elas me foram dadas. Quando as tinha nas mãos, não sabia o que fazer: entrei em pânico. E eis que estou aqui, meus caros, abrindo as portas com cuidado, entrando de mansinho, tremendo. Voilà, minha grande estréia.

A questão é que nunca tive um blog na vida, nunca escrevi para os outros, mesmo que nas horas de maior desespero a escrita tenha sido meu único e insubstituível remédio. Já escrevi, e muito, porém poucos são os que tiveram a honra (ou desgosto) de ler minhas produções. Meus textos e poesias têm esse "acesso restrito" porque eu sempre desenrolei assuntos pra lá de pessoais, e, convenhamos, eu não sou mulher de ficar expondo por aí as minhas fraquezas. Grandes decepções, amores não correspondidos, não amores extra correspondidos, família, a vida, a vida e a vida; dores: no peito, de cotovelo, de corno (ah, as dores de corno!), enfim...

É verdade também que sempre senti um pouquinho de vergonha. Tá, um pouquinho não, muita vergonha. Nunca tinha conhecido um protótipo de jornalista com vergonha de publicar?Muito prazer. Tenho medo de errar, falar merda, medo de julgamentos ("ah, não se pode ter medo de errar!todo mundo erra!e você sempre vai ser julgada, mesmo pelo silêncio!"blá blá, blá.), e isso tudo sempre me travou. Além disso, tenho uma certa dificuldade em encontrar palavras (muito prazer, mais uma vez). E também tenho alguns princípios aos quais sou fiel, mas isso eu comento mais tarde.

Outro ponto: não me é natural simplesmente discorrer sobre assuntos aleatórios, assim, sem um objetivo. As pessoas que ublicam devem ter suas razões, para serem ouvidas, ou simplesmente pra botar tudo pra fora, mas nenhuma delas me cabe. Se são banalidades, conversamos numa mesa de bar. Se são muito sérios e profundos, também conversamos numa mesa de bar. Agora, se são muito íntimos, escrevemos num papel e guardamos no fundo de uma gaveta. Pra mim é isso. Mas voltemos aos princípios. Veja bem, as premissas são simples, portanto de fácil compreensão (abençoada seja a lógica!)

Não falo sobre assuntos que não domino;
Não domino nenhum assunto;
Logo, não falo porríssima nenhuma.

Me irrita ver gente falando do que não sabe. Um discurso sem fundamento, opiniões sem relevância. Eu particularmente demoro para processar os dados do mundo, estou indo com calma, um passo de cada vez. Mas também não entrei aqui pra ficar calada. Trarei a mesa de bar pra dentro do apê, e até mesmo alguns rascunhos da gaveta. Aqui vou falar de banalidades, casos, vou expressar o meu eu artístico - isto é, se houver algum dentro de mim, falar um pouco de merda e um pouco de mim. Aliás, o "eu" é um bom começo. [a ser continuado]

(Respira. Respira. Publicar postagem)

Sinto a porta fechando às minhas costas.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Re: Sobre o meu sumiço!

De: Mim
Enviada: domingo, 12 de abril de 2009 20:07:10
Para: O Desaparecido
Assunto: Re: Sobre o meu sumiço!

Cara, que foda.

Posso dizer pra você que já levei várias broncas com relação a isso de não avisar onde estava, com quem estava, nem o que estava fazendo. Quantas noites, me divertindo, deixei de fazer uma simples ligação que acalmasse meus pais. Quantas vezes não devi satisfações. Quantas vezes a música alta ou o sussuro no ouvido não foram desculpas pro "ai, eu ligo mais tarde..."

Acontece. Claro, nunca chegou as suas proporções, grazie dio!, mas acho que se juntarmos todas as pequenas horas que meus pais já ficaram loucos atrás de mim vai dar na overdose de tempo que sua mãe ficou querendo te achar. A gente tem essa neura de querer a independência. Na verdade, é a típica vontade de querer mudar, fazer a vida valer, fazer alguma coisa para mostrar que vivemos. Nós somos todos jovens, inteligentes com saúde. Precisa de mais alguma coisa?! A gente tem tudo o que quer. Mas falta.

Sentimos falta daquilo que ninguém sabe. Sentimos que o que temos não é suficiente. Estamos sempre querendo mais - seja esse "mais" mais do mesmo ou mais do outro, do novo, do diferente. Esse desejo louco por mudança vem desde sempre, e posso arriscar que é o que move o homem. Enquanto tudo parece perfeitinho - você tem sua casa, estuda numa faculdade foda, tem um puta futuro pela frente - um monstro dentro de nós nos angustia, nos inquieta, faz parecer que "peraí, mano, alguma coisa EU tenho que fazer pra viver de verdade! EU tenho que aproveitar essa minha existência no mundo"

Ok, parece exagero, e muitos vão pensar que é a falta de preocupação - já diria o ditado popular: mente vazia, oficina do diabo., mas no fundo no fundo, acredito que esses sumiços que nós damos servem simplesmente para sair desse sistema, dessa rotina, dessa obviedade e certeza que nos regula.

Meu, todos nós somos maiores de idade. Quantas pessoas não mudaram o mundo com 18 anos? Quantos não fizeram filho, criaram família, se sustentaram sozinhos com 18 anos? Tudo bem, isso tá fora da nossa realidade, mas sempre esteve presente nas outras - sejam elas de outras décadas, de outras classes... - quantas loucuras, quantos ideais, quantas revoluções não surgiram da juventude?!

O que eu quero dizer é que a gente tá naquele limbo: não somos adultos, não nos sustentamos e dependemos totalmente dos nossos pais. Devemos explicações a eles - afinal, "só" são as pessoas que mais nos amam no mundo... Um pai daria a vida pelo filho (e isso só quando vc for pai vai saber de verdade!). Temos esse privilégio de ter alguém que se daria por nós. Ao mesmo tempo, queremos mostrar para o mundo que não! Não dependo mais de ninguém. Posso seguir meu rumo. Aliás, já está mais do que na hora de segui-lo sozinho. Não aguento mais ter que avisar a todo instante onde estou, com quem estou, o que estou fazendo. Quero a minha vida.

Aí que a gente some. Quando sentimos o gostinho de minha vida. Quando estamos nos sentindo tão bem no meio de gente igual a gente, gente que também está nesse barco, nesse limbo, que simplesmente esquecemos - e não queremos lembrar - do mundo real (aquele que para nós é o da vida que nossos pais suaram para nos dar e o qual vivemos desde sempre).

Entendo perfeitamente o que aconteceu com vo ê(apesar de você até poder achar que toda essa minha teoria daí de cima é pura viagem). Não acho que deva desculpas, mesmo porque foi um aprendizado para todos. Parece que você pegou todos os meus erros do ano passado e juntou em uma noite. Eu me vi em você. O que nos resta fazer é, cara, respirar fundo, agradecer MUITO a família que tem e a amizade que construímos (ou melhor, as amizades que você construiu).

[Falando em off, dá até vontade de sumir só pra ver se as reações seriam as mesmas. Só para comprovar as amizades que tenho.]

Com esse episódio você ganhou mais do que vários esporros (juro que quando eu ouvi sua voz e vi que você estava bem eu fiquei muito aliviada mas também muito nervosa, muito puta - aquele tempo todo a gente mega preocupados e você na balada, nem pra me chamar! hahaahah... Na hora eu vi que aquele nervosismo só era resposta para a minha preocupação que só era sinal do amor que sinto por você - e do amor que todos sentem) você ganhou a certeza de que tem amigos. Você ganhou a resposta do que é amor.

Mano, não me faça mais passar por isso! Pelamordedeus, vc não sabe o que é estar indo pra um EXAME DE SANGUE e ouvir pela boca do seu pai que o "ELE DESAPARECEU!". Vc não sabe o que é imaginar mil tragédias, mil coisas horríveis, mil coisas que me dá até vergonha de ter pensado. Pela primeira vez eu senti raiva da minha imaginação fértil. Você não tem noção do nó que aquelas duas palavras deram no meu estômago, no meu coração, em todos os meus orgãos.

Sério, a gente se preocupa muito com você. Você é de ouro, meu. E quando eu digo isso é porque é mesmo. Então oh, mais do que pedir desculpas, basta apenas fazer uma ligação (momento Teleton)!

Dê notícias.
Sempre.
(maaano, somos profissionais da comunicação, ui!)

beijos

[A situação: saiu às 14h de sexta com um grupo de amigos. Não deu mais notícias. Às 3h, sua mãe liga desesperada sem saber onde está. Logo em seguida, o sono de muitos termina: temos que o achar. 11h30 da manhã encontro ele por telefone: "Nossa, estou bem! Eu vi que um monte de gente me ligou... É, eu saí ontem.... Não tinha condições para voltar pra casa, acabei ficando na casa de um amigo". Normal.]

sábado, 11 de abril de 2009

Ternura

Tem umas coisas na casa da minha mãe que me enchem de ternura. Aquele negocinho que segura os guardanapos enrolados, não me lembro o nome. Sequer o soube alguma vez, eu acho. Fico pensando nela os escolhendo na loja. Minha mãe nunca foi de demorar pra escolher nada. É esse? É esse e pronto. Fico pensando como nasci dela, de vez em quando. (Tenho em mim todas as indecisões do mundo).

A imagem que me vem à cabeça é o típico quarto bem branquinho de hospital. Minha mãe está lá, deitada nele, sem dar um pio, serena, apesar de eu estar me esperneando toda lá dentro, querendo sair. Outra coisa que me faz questionar como foi que eu nasci dela é essa força inabalável pra qualquer tipo de dor. Mas isso aí eu já começo a achar que a gente vai adquirindo com o tempo.

Quantas vezes acordo e desejo profundamente ficar na cama o dia inteiro do tanto que dói. Ou sou tentada a cair no pranto, no meio de todo mundo, por causa de alguma coisa que me disseram, que me contaram, que eu vi... Mas não faço, nunca. Nem uma coisa, nem outra. Se fosse a menininha de anos atrás, já teria desistido de brincar e chamado a minha mãe há muito tempo.

Mas, hoje, nem quando eu quero, eu consigo fraquejar. É claro que não cheguei à inabalável força das mães do mundo. E que já errei muito e feio tentando chegar. Inclusive onde estou.
Confundi força com frieza.
Chamei-a de indiferença.
Machuquei muita gente.
Fui jovem. Aliás, abusei. Abusei da minha juventude. Essa beleza toda, inerente a qualquer juventude, tem que ter algo de estúpido, algo de efeito colateral. Aquilo a que chamam imaturidade. E tem que ter alguém afobado o suficiente pra abusar dela.

Mas cresci um pouco com o tempo. As confusões diminuíram. A fraqueza também.
E eu só espero é que as indecisões também diminuam. Mas é que eu não gosto muito de pensar no futuro. Prefiro me encher de ternura toda vez em que vejo o negocinho na terceira gaveta da cozinha e só. Afinal, não preciso ser um poço de fortaleza e decisões acertadas se sou um poço de ternura.

Não há nada mais bonito do que a capacidade de se emocionar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Embaixo do capacho, encontramos a seguinte nota:

"Cansei-me da quantidade de cômodos que tinha na velha casa da minha avó. Era muito quarto para nada. Ela, conhecida Amélia, sempre fora a rainha do lar - mas mesmo assim tinha que varrer aquela imensidão para depois não ter mais onde jogar o pó. Era cobrada para limpar direito o vidro, acertar a mão no tempeiro, dar de mamar ao bebê, arrumar todas as camas. Depois, fazer as unhas, trazer o chinelo do marido, fazer meias de tricô para as crianças, ler revistas sobre "como domesticar de seu homem" e assistir aos programas da tarde na televisão. Sem contar que tinha que saber de cor e salteado as receitas e o último capítulo da novela para poder comentar com as vizinhas. Grande Amélia.

Decidi mudar de vida. Ok, morar em casa de Vó é bom. Ainda mais quando se é uma Amélia - aprende-se muito do universo feminino, mas resolvi mudar-me para cá - um apartamento aqui no centro.

E também, eu que sou Amélia em homenagem à vó Amélia, sinceramente estava cansada de ouvir as pessoas cantando que "Amélia não tinha a menor vaidade e ela é que era mulher de verdade". Ah, faça-me o favor, eu tenho vaidade sim, e ai de quem dizer que não sou de verdade. Sou mais de verdade ainda - superlativa, explosiva de carne, osso e sem mimimi.

De mala e cuia vim virar independente. Ou melhor, independente sempre fui. Mas agora quero mostrar para o mundo todo que verdadeiramente sou. Boto a boca no trombone e o que ficava só dentro de casa há de se tornar público.
Com vocês, aberto a todos, o meu apê - com cheiro de café no ar, livros a todo canto e muita muita coisa para ser discutida.

Sejam Bem-Vindos!"

Entramos mesmo. E fomos muito bem-recebidas.