quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ela não sabia o que era amor. Ou melhor, sabia o amor que tinha, mas para os outros aquele amor que tinha era não saber o que é amor. Cartas, presentes, chamegos, dengos e flores. Isso não. Isso sim do jeito dela. Só quando fosse dela. Na hora dela.

Talvez por isso achavam não saber o que é amor. Por não seguir os passos do jeito deles, e sim do jeito dela. Por não seguir, aliás, um só passo. Seguir vários. Vários para poder se perder, cada vez mais em passos tortos. Para dançar em vários ritmos, já que em um só ela não conseguia, parecia desajustada, dançava mal quando era em par. Tango, então, nem pensar.

Na verdade, o que queria mesmo é que todos falassem nela, pensassem nela - enquanto ela pudesse se dar ao luxo de pensar em todos e em outros. Não queria se limitar, mas queria que se limitassem. Egoísta, isso sim. Muito egoísta. Tão egoísta que não aceitava perceber que outros caíam no jogo dela e sabiam estar caindo. Se caíssem e soubessem, com eles não falaria mais. Queria que só ela percebesse o jogo. Quando os outros soubessem, seria sinal de que o jogo já não era mais dela. Se afastaria.

Tanto se afastou que perdeu a graça no afastamento. Perdeu a graça no amor do jeito que ela tinha, o jeito que só ela percebia ter. Precisava, para si, o amor do jeito do outro. Talvez , não por acaso, era o amor que todos aqueles que a culpava por não ter amor, tinham: era o melhor amor possível.

3 comentários:

  1. "Na verdade, o que queria mesmo é que todos falassem nela, pensassem nela - enquanto ela pudesse se dar ao luxo de pensar em todos e em outros."

    Mas é que todas têm um momento ou outro assim. Acho.

    Mas ahh, quando vem o amor do jeito do outro...

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  2. "mas para os outros aquele amor que tinha era não saber o que é amor"

    Me identifiquei muito com isso.
    Com tudo isso na verdade.
    Tão bonito.

    =]

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  3. "Para dançar em vários ritmos, já que em um só ela não conseguia, parecia desajustada, dançava mal quando era em par. Tango, então, nem pensar"

    Não é com qualquer par que se dança bem.

    É de se entender que as pessoas vaguem por vários outros ritimos, enquanto não encontra o seu par. Pois muitas vezes não conhecem, ou mesmo já se esqueceram, o prazer que é dançar uma bela musica a dois. Mas quando encontra o par certo... aahh, até mesmo o tango fica facil de se dançar de olhos bem fechados.

    Acredito que o "jeito do outro" um dia chega... Quero dizer, que todos, algum dia, vão conseguir dançar um belo tango =]

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