quinta-feira, 29 de setembro de 2011

De Nanook aos Cavalos-Marinhos*

Estou eu numa linda tarde de primavera conversando com a Helô quando percebo o dom que as pessoas têm de mudar de assunto. É bizarro.

Tinha uma comunidade do Orkut que se chamava "Mudo de assunto, gosto de azul". Óbvio que eu entrei nela. Óbvio.

E não era nem porque eu gostasse de azul, tá, eu até gosto. Gosto de todas as cores, aliás, acho muita mancada fazerem você definir, desde criança, a sua "cor predileta". É pra quê? Para criar um senso de discernimento? Para que você aprenda a fazer escolhas logo cedo?

Se for por isso, que façam uma pergunta mais útil. Se bem que é difícil definir o que seria uma pergunta útil. Todas são ao mesmo tempo útil e inúteis. Tudo depende do contexto.

Falando em contexto, "preguiça não é pecado quando contextualizada", a Helô soltou. A gente estava dissertando sobre minha tarde, que eu estou aqui tendo um monte de coisas para fazer mas resolvo ficar escrevendo. Sabe por quê? Porque nessa semana eu estou com tempo.

Isso mesmo. TEMPO. Invejem, meros mortais, ele resolveu aparecer pra mim. E aí que eu decidi me entregar completamente.

Normalmente eu sou uma ótima otimizadora de tempo. Organizo tudo, faço listas e cronogramas. Dessa vez eu até fiz um cronograma, para "aproveitar essa semana única na minha vida em que ele, sr. tempo, apareceu para mim". Mas o que aconteceu? Ele me falou: "Alice, você me tem nessa semana. Relaxa. Nem precisa me otimizar que eu deixo".

E aí eu percebi que sofro do mal moderno de ser dependente da não-liberdade. "Tempo livre", "desenho livre", "tema livre"... Todos temem quando qualquer palavra aparece acompanhada de "livre". Sabem por quê? Porque é muito difícil ministrar a liberdade.

É o caso disso aqui, por exemplo. O tema é livre. Vim pra cá escrever, pensando em atualizar o Apê e deu no que deu. Agora eu não consigo parar.

Isso porque eu nem falei ainda sobre o título. Sempre deixo o título pro final, mas dessa vez ele pediu para ser posto lá antes de que eu escrevesse qualquer coisa aqui embaixo.

Primeiro, Nanook. Se você sabe de quem estou falando, parabéns. Se você não sabe, nem se preocupa porque eu passei muito tempo da minha vida sem saber e tô bem. Oh aqui:


Simpático, né?

Pois começamos a falar sobre ele por causa do babado que eu descobri de que o Flaherty, o diretor, tinha tido um filho com sua mulher. Tipo, mas o problema era: qual das mulheres.

Porque assim, o Nanook tinha uma mulher que não era muito boa na frente da câmera (sabe-se lá porquê), então o francês não satisfeito em se meter no meio da neve para filmar a vida dos esquimós, resolveu trocá-la por uma mais bonitinha - provavelmente. Daí tive um lapso, fiquei em dúvida e soltei: "minhas fontes não me falaram ao certo de qual mulher ele se engravidou".

Detalhe 1: minha fonte é o Jean Rouch, porque tive que apresentar um seminário sobre ele e li uma entrevista muito massa em que ele solta esse bafão.

Detalhe 2: ele fala claramente que é a mulher-fake a que teve o filho com Flaherty (pág. 70).

Mas esqueça dos detalhes, porque eles não importam para entender onde entra o cavalo-marinho nessa história, né? Você percebeu o que eu falei, não percebeu?

Ele não sabe de qual mulher ele se engravidou. Ato falho dos brabos. Ah, se homem engravidasse...

Cavalos-marinhos machos, como se é sabido, colocam os ovos na barriga. E agora a parte que a Wikipédia me contou, também bafão: e depois têm que soltar uns 400 filhotes por vez.

Gente, é muito filhote.


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*Ou: Deixaram a Alice Procrastinar

2 comentários:

  1. hahahahhaha adorei isso.

    saudades da alice-viajante e da helô-que-veio-numa-nave-de-fogão.

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  2. a nave-de-fogão da helô é incrível. eu queria ter dado uma voltinha nela..

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