Não sou das mais politizadas, mas acho incrível como as pessoas conseguem aceitar questões tão arcaicas escondidas em um mundo que se diz liberal e democrático. Isso tudo porque o assunto do aborto e das eleições saiu do lugar-comum e me fez pensar um pouco a respeito.
Votei na Marina Silva para presidente e até cogitei escolher o Serra no segundo turno – Erenice e Temer me ajudaram no grande dilema -, mas sempre apoiei a posição da Dilma a favor da legalização do aborto. Com esse circo criado pela Igreja Católica, que a fez inclusive voltar atrás em suas reais convicções para angariar votos católicos, eu me sinto na Idade Média, ou pelo menos na época puritanista pré – anos 60.
O aborto é assunto que concerne à sociedade e merece ser debatido, por ser questão de saúde pública. OK. Mas não é pra se chegar a uma verdade absoluta, com o objetivo de julgá-lo por assassinato ou não. Alguns acreditam que o embrião já é uma vida a partir do 6º dia de gestação, em que ele se fixa no útero. Outros atribuem vida à 2ª semana, em que se forma o cérebro. Outros, a partir da 4ª semana, em que o coração começa a bater, e assim por diante. Não sejamos tolos em achar que há uma verdade que possa ser produzida a partir da, digamos, crença de cada um. É muito subjetivo!
O que podemos discutir é se a proibição do aborto é eficiente. Em outras palavras: se ele evita que pessoas copulem sem o cuidado recomendado e que essas mesmas pessoas tenham a mesma convicção católica de que todo feto é vida. Se tiverem, a lei terá que garantir que a mãe ame essa “vida” e nunca o abandone. Mas se não tiverem, ele se comprometerá para que essas mulheres não arrisquem sua vida em clínicas clandestinas e perigosas. Um grande idealista conseguiria imaginar um mundo assim, e eu admito que seria muito legal.
Mas não é. Pessoas pensam diferente e isso deve ser respeitado. Olhamos, hoje, o Clero que mandava cientistas pra fogueira por pensarem diferente deles na Idade Média e achamos um absurdo. Um pouco mais perto da nossa realidade, temos a Igreja condenando o uso da pílula anticoncepcional e, olhando a sociedade complacente da época, pensamos no quanto somos evoluídos. Hoje, 2º milênio (depois de Cristo, vale dizer), ano de 2010, nos garantimos laicos e tolerantes.
Deixe a Igreja pensar o que ela quiser, e que pregue a seus fanáticos fervorosos sobre a importância da vida e o que mais ela quiser. E quem quiser, que a siga. Mas aqui não. Deixem assuntos religiosos aos religiosos, e assuntos de saúde pública ao Estado. E o mais importante: deixe a decisão para quem tem que decidir. No caso, a mulher.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
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Arrasou, aniversariante!
ResponderExcluirPost de estreia super super super condizente. Melhor não poderia ser.
E cara, vc tem toda razão, afinal, estado é estado, igreja é igreja. E mulher.. É mulher, cara.
Esse seu texto me deu muita vontade de conversar conversar e conversar. Vamos?
(Ah, não pense que vc não é "das mais politizadas", cara. Vc é sim senhora - e, sim, isso muitas vezes provoca sofrimentos e insatisfações das mais gigantescas, por aqui.)