sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cada um no seu quadrado

Não sou das mais politizadas, mas acho incrível como as pessoas conseguem aceitar questões tão arcaicas escondidas em um mundo que se diz liberal e democrático. Isso tudo porque o assunto do aborto e das eleições saiu do lugar-comum e me fez pensar um pouco a respeito.

Votei na Marina Silva para presidente e até cogitei escolher o Serra no segundo turno – Erenice e Temer me ajudaram no grande dilema -, mas sempre apoiei a posição da Dilma a favor da legalização do aborto. Com esse circo criado pela Igreja Católica, que a fez inclusive voltar atrás em suas reais convicções para angariar votos católicos, eu me sinto na Idade Média, ou pelo menos na época puritanista pré – anos 60.

O aborto é assunto que concerne à sociedade e merece ser debatido, por ser questão de saúde pública. OK. Mas não é pra se chegar a uma verdade absoluta, com o objetivo de julgá-lo por assassinato ou não. Alguns acreditam que o embrião já é uma vida a partir do 6º dia de gestação, em que ele se fixa no útero. Outros atribuem vida à 2ª semana, em que se forma o cérebro. Outros, a partir da 4ª semana, em que o coração começa a bater, e assim por diante. Não sejamos tolos em achar que há uma verdade que possa ser produzida a partir da, digamos, crença de cada um. É muito subjetivo!

O que podemos discutir é se a proibição do aborto é eficiente. Em outras palavras: se ele evita que pessoas copulem sem o cuidado recomendado e que essas mesmas pessoas tenham a mesma convicção católica de que todo feto é vida. Se tiverem, a lei terá que garantir que a mãe ame essa “vida” e nunca o abandone. Mas se não tiverem, ele se comprometerá para que essas mulheres não arrisquem sua vida em clínicas clandestinas e perigosas. Um grande idealista conseguiria imaginar um mundo assim, e eu admito que seria muito legal.

Mas não é. Pessoas pensam diferente e isso deve ser respeitado. Olhamos, hoje, o Clero que mandava cientistas pra fogueira por pensarem diferente deles na Idade Média e achamos um absurdo. Um pouco mais perto da nossa realidade, temos a Igreja condenando o uso da pílula anticoncepcional e, olhando a sociedade complacente da época, pensamos no quanto somos evoluídos. Hoje, 2º milênio (depois de Cristo, vale dizer), ano de 2010, nos garantimos laicos e tolerantes.

Deixe a Igreja pensar o que ela quiser, e que pregue a seus fanáticos fervorosos sobre a importância da vida e o que mais ela quiser. E quem quiser, que a siga. Mas aqui não. Deixem assuntos religiosos aos religiosos, e assuntos de saúde pública ao Estado. E o mais importante: deixe a decisão para quem tem que decidir. No caso, a mulher.

Um comentário:

  1. Arrasou, aniversariante!

    Post de estreia super super super condizente. Melhor não poderia ser.

    E cara, vc tem toda razão, afinal, estado é estado, igreja é igreja. E mulher.. É mulher, cara.

    Esse seu texto me deu muita vontade de conversar conversar e conversar. Vamos?

    (Ah, não pense que vc não é "das mais politizadas", cara. Vc é sim senhora - e, sim, isso muitas vezes provoca sofrimentos e insatisfações das mais gigantescas, por aqui.)

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