sábado, 11 de abril de 2009

Ternura

Tem umas coisas na casa da minha mãe que me enchem de ternura. Aquele negocinho que segura os guardanapos enrolados, não me lembro o nome. Sequer o soube alguma vez, eu acho. Fico pensando nela os escolhendo na loja. Minha mãe nunca foi de demorar pra escolher nada. É esse? É esse e pronto. Fico pensando como nasci dela, de vez em quando. (Tenho em mim todas as indecisões do mundo).

A imagem que me vem à cabeça é o típico quarto bem branquinho de hospital. Minha mãe está lá, deitada nele, sem dar um pio, serena, apesar de eu estar me esperneando toda lá dentro, querendo sair. Outra coisa que me faz questionar como foi que eu nasci dela é essa força inabalável pra qualquer tipo de dor. Mas isso aí eu já começo a achar que a gente vai adquirindo com o tempo.

Quantas vezes acordo e desejo profundamente ficar na cama o dia inteiro do tanto que dói. Ou sou tentada a cair no pranto, no meio de todo mundo, por causa de alguma coisa que me disseram, que me contaram, que eu vi... Mas não faço, nunca. Nem uma coisa, nem outra. Se fosse a menininha de anos atrás, já teria desistido de brincar e chamado a minha mãe há muito tempo.

Mas, hoje, nem quando eu quero, eu consigo fraquejar. É claro que não cheguei à inabalável força das mães do mundo. E que já errei muito e feio tentando chegar. Inclusive onde estou.
Confundi força com frieza.
Chamei-a de indiferença.
Machuquei muita gente.
Fui jovem. Aliás, abusei. Abusei da minha juventude. Essa beleza toda, inerente a qualquer juventude, tem que ter algo de estúpido, algo de efeito colateral. Aquilo a que chamam imaturidade. E tem que ter alguém afobado o suficiente pra abusar dela.

Mas cresci um pouco com o tempo. As confusões diminuíram. A fraqueza também.
E eu só espero é que as indecisões também diminuam. Mas é que eu não gosto muito de pensar no futuro. Prefiro me encher de ternura toda vez em que vejo o negocinho na terceira gaveta da cozinha e só. Afinal, não preciso ser um poço de fortaleza e decisões acertadas se sou um poço de ternura.

Não há nada mais bonito do que a capacidade de se emocionar.

Um comentário:

  1. Poxa, tem algumas coisas que me enchem de ternura assim também, tipo o potinho cheio de raminhos de manjericão e alecrim lavados em cima da pia da cozinha da minha mãe. E então penso nela cumprimentando a vizinha e subindo na sua horta para colher um pouco das ervas, emprestadas.

    Falando em coisas de segurar o guardanapo enrolado... tem um par na casa do meu pai que era da minha avó. São de prata, ornados com arabescos vazados, e têm uma inscrição: Nena e Sebastião, datado de um 12 de junho (dia dos namorados). Meu avô os deu a ela num dia dos namorados - vinte anos depois de casados.

    Ando me sentindo adultescendo, e isso é tanto estranho quanto bom. Acho que em breve precisarei escrever sobre isso também, para talvez entender melhor esse momento... sempre fica mais claro para mim mesma quando as coisas são passadas para o papel - parece que então dá para se estudar ali...

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