segunda-feira, 13 de abril de 2009

Re: Sobre o meu sumiço!

De: Mim
Enviada: domingo, 12 de abril de 2009 20:07:10
Para: O Desaparecido
Assunto: Re: Sobre o meu sumiço!

Cara, que foda.

Posso dizer pra você que já levei várias broncas com relação a isso de não avisar onde estava, com quem estava, nem o que estava fazendo. Quantas noites, me divertindo, deixei de fazer uma simples ligação que acalmasse meus pais. Quantas vezes não devi satisfações. Quantas vezes a música alta ou o sussuro no ouvido não foram desculpas pro "ai, eu ligo mais tarde..."

Acontece. Claro, nunca chegou as suas proporções, grazie dio!, mas acho que se juntarmos todas as pequenas horas que meus pais já ficaram loucos atrás de mim vai dar na overdose de tempo que sua mãe ficou querendo te achar. A gente tem essa neura de querer a independência. Na verdade, é a típica vontade de querer mudar, fazer a vida valer, fazer alguma coisa para mostrar que vivemos. Nós somos todos jovens, inteligentes com saúde. Precisa de mais alguma coisa?! A gente tem tudo o que quer. Mas falta.

Sentimos falta daquilo que ninguém sabe. Sentimos que o que temos não é suficiente. Estamos sempre querendo mais - seja esse "mais" mais do mesmo ou mais do outro, do novo, do diferente. Esse desejo louco por mudança vem desde sempre, e posso arriscar que é o que move o homem. Enquanto tudo parece perfeitinho - você tem sua casa, estuda numa faculdade foda, tem um puta futuro pela frente - um monstro dentro de nós nos angustia, nos inquieta, faz parecer que "peraí, mano, alguma coisa EU tenho que fazer pra viver de verdade! EU tenho que aproveitar essa minha existência no mundo"

Ok, parece exagero, e muitos vão pensar que é a falta de preocupação - já diria o ditado popular: mente vazia, oficina do diabo., mas no fundo no fundo, acredito que esses sumiços que nós damos servem simplesmente para sair desse sistema, dessa rotina, dessa obviedade e certeza que nos regula.

Meu, todos nós somos maiores de idade. Quantas pessoas não mudaram o mundo com 18 anos? Quantos não fizeram filho, criaram família, se sustentaram sozinhos com 18 anos? Tudo bem, isso tá fora da nossa realidade, mas sempre esteve presente nas outras - sejam elas de outras décadas, de outras classes... - quantas loucuras, quantos ideais, quantas revoluções não surgiram da juventude?!

O que eu quero dizer é que a gente tá naquele limbo: não somos adultos, não nos sustentamos e dependemos totalmente dos nossos pais. Devemos explicações a eles - afinal, "só" são as pessoas que mais nos amam no mundo... Um pai daria a vida pelo filho (e isso só quando vc for pai vai saber de verdade!). Temos esse privilégio de ter alguém que se daria por nós. Ao mesmo tempo, queremos mostrar para o mundo que não! Não dependo mais de ninguém. Posso seguir meu rumo. Aliás, já está mais do que na hora de segui-lo sozinho. Não aguento mais ter que avisar a todo instante onde estou, com quem estou, o que estou fazendo. Quero a minha vida.

Aí que a gente some. Quando sentimos o gostinho de minha vida. Quando estamos nos sentindo tão bem no meio de gente igual a gente, gente que também está nesse barco, nesse limbo, que simplesmente esquecemos - e não queremos lembrar - do mundo real (aquele que para nós é o da vida que nossos pais suaram para nos dar e o qual vivemos desde sempre).

Entendo perfeitamente o que aconteceu com vo ê(apesar de você até poder achar que toda essa minha teoria daí de cima é pura viagem). Não acho que deva desculpas, mesmo porque foi um aprendizado para todos. Parece que você pegou todos os meus erros do ano passado e juntou em uma noite. Eu me vi em você. O que nos resta fazer é, cara, respirar fundo, agradecer MUITO a família que tem e a amizade que construímos (ou melhor, as amizades que você construiu).

[Falando em off, dá até vontade de sumir só pra ver se as reações seriam as mesmas. Só para comprovar as amizades que tenho.]

Com esse episódio você ganhou mais do que vários esporros (juro que quando eu ouvi sua voz e vi que você estava bem eu fiquei muito aliviada mas também muito nervosa, muito puta - aquele tempo todo a gente mega preocupados e você na balada, nem pra me chamar! hahaahah... Na hora eu vi que aquele nervosismo só era resposta para a minha preocupação que só era sinal do amor que sinto por você - e do amor que todos sentem) você ganhou a certeza de que tem amigos. Você ganhou a resposta do que é amor.

Mano, não me faça mais passar por isso! Pelamordedeus, vc não sabe o que é estar indo pra um EXAME DE SANGUE e ouvir pela boca do seu pai que o "ELE DESAPARECEU!". Vc não sabe o que é imaginar mil tragédias, mil coisas horríveis, mil coisas que me dá até vergonha de ter pensado. Pela primeira vez eu senti raiva da minha imaginação fértil. Você não tem noção do nó que aquelas duas palavras deram no meu estômago, no meu coração, em todos os meus orgãos.

Sério, a gente se preocupa muito com você. Você é de ouro, meu. E quando eu digo isso é porque é mesmo. Então oh, mais do que pedir desculpas, basta apenas fazer uma ligação (momento Teleton)!

Dê notícias.
Sempre.
(maaano, somos profissionais da comunicação, ui!)

beijos

[A situação: saiu às 14h de sexta com um grupo de amigos. Não deu mais notícias. Às 3h, sua mãe liga desesperada sem saber onde está. Logo em seguida, o sono de muitos termina: temos que o achar. 11h30 da manhã encontro ele por telefone: "Nossa, estou bem! Eu vi que um monte de gente me ligou... É, eu saí ontem.... Não tinha condições para voltar pra casa, acabei ficando na casa de um amigo". Normal.]

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